Escrevi recentemente sobre os vinhos da América do Sul e, além de exaltar a qualidade indiscutível desses exemplares hermanos, falei sobre a importância que o mercado brasileiro hoje tem para essas vinícolas. Somos, para a maioria delas, o público alvo. Por conta disso, a minha vida agora, além de comer, é beber vinhos dos vizinhos. É dia sim e outro também.
O último foi um argentino da Bodega Colomé, onde as uvas frutificam a três mil metros de altitude, na região de Salta. Provamos a nova safra em almoço servido à altura: no 30 andar! Mais precisamente, no Skylab, restaurante instalado na cobertura do Hotel Othon, na Avenida Atlântica.
Não iria até ali voluntariamente. É daqueles restaurantes típicos de hotel, com ambiente impessoal e bufê enorme, com tudo em cima para agradar do casal cearense ao grupo de Taiwan. Mas o Skylab (que, para completar, ainda exibe esse nome) tem dois trunfos fortes, que só mesmo indo lá para desvendar. E desfrutar. Primeiro, a vista, a mais deslumbrante e completa da orla. Depois, a cozinha, que está nas mãos do chef Jean Yves Poirey — que, para quem não sabe, é egresso da leva de franceses que trouxe Claude Troisgros.
Poirey, além de low profile, teve (e tem) uma trajetória diferente: morou anos na Bahia e na África. Só recentemente voltou ao Rio. E para a cozinha do Sylab. Não tivesse ido a essa degustação (organizada por paulistas, que sabem tudo em matéria de vista do Rio), eu pouca saberia sobre a cozinha de Poirey. Gostei e sugiro uma visita (um dia de semana, quem sabe). Vá no menu do chef. Deixe o bufê para os hóspedes.
Pedimos o menu degustação (R$ 55, no almoço, e R$ 90, no jantar). A salada de camarão (que parecia uma orquídea) com rodelas fininhas de pupunha intercaladas com manga e azeite de baunilha abriu o serviço. Depois, vieram os profiteroles recheados com brandade (levinha) de bacalhau e colius adocicado de pimentão amarelo. E, por fim, medalhão de filé au poivre com pimenta sichuan e blinis de batata-doce. Adorável. Terminamos com crepe de goiabada em calda de caramelo, que me deixou nas nuvens. Harmonização perfeita: almoço com comida e vinho nas alturas. Literalmente.